sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Fiquei, Recife

Polo de criação de softwares interrompe fuga de cérebros e segura na capital pernambucana centenas de experts em tecnologia

por Débora Nogueira* | Fotos: divulgação
Editora Globo
Escrevendo o futuro :Centro hi-tech no Recife tem 550 funcionários em busca de soluções para problemas da sociedade
Eles ocupam um prédio velho no centro antigo do Recife, mas formam uma das maiores concentrações de gente pensando o novo no Brasil. São engenheiros de computação, antropólogos, arquitetos de informação, designers, jornalistas, psicólogos e até músicos em busca de soluções tecnológicas para problemas da sociedade. De softwares para helicópteros não-tripulados a robôs que irrigam lavouras, as criações dos 550 profissionais do Centro de Estudos e Sistemas Avançados do Recife, o Cesar, rendem à instituição a fama de berço de startups e um faturamento de R$ 60 milhões por ano.

Dinheiro, no entanto, não é o principal objetivo. Não estivessem nesse edifício tombado, muitos ali teriam ido para outras cidades brasileiras ou para o exterior. Era o que acontecia com os alunos de Ciências da Computação do professor Silvio Meira na Universidade Federal de Pernambuco em 1996, quando ele criou o Cesar para conter a fuga de cérebros. Sem fins lucrativos, o centro reinveste o lucro nos mais de 50 projetos que conduz, todos voltados à inovação. “E tudo se resume a software. No futuro, não haverá nada que não seja fruto de vocação. Tudo será por software”, prevê Meira, cientista-chefe do centro e um dos mais respeitados pesquisadores de tecnologia no Brasil.

Problemática e solucionática

Editora Globo
Foto: Divulgação
Muito do trabalho no Cesar é achar problemas. Eles podem ser trazidos por empresas que gostariam de ver algo funcionando melhor ou aparecer de situações do dia a dia. Um grupo lá dentro, por exemplo, tenta resolver os dilemas das grandes cidades organizando dados de trânsito, violência, meteorologia, e até posição de táxis para facilitar a vida das pessoas. Outro cria softwares que controlam de micro-ondas a freios de carros, os chamados sistemas embarcados. Do projeto inicial até o protótipo, tudo é feito lá dentro. Há ainda aplicativos para turbinar TVs que se conectam à internet, entre outros projetos (conheça alguns no quadro da página ao lado).

Um exemplo de problema resolvido por eles recentemente é a irrigação de grãos. Esse trabalho é feito pelos pivôs, enormes estruturas que molham áreas de até 100 campos de futebol. Para ligar o pivô e controlar a pressão da água, um funcionário visita todos os dias o equipamento, que costuma ficar longe da sede da fazenda. “Isso gera um gasto enorme de energia. Muitas vezes o pivô funciona mesmo que esteja chovendo", explica o executivo-chefe de negócios do Cesar, Eduardo Peixoto.

Para combater o desperdício, foi criado um sistema de monitoramento do pivô em tempo real. Com ele, o fazendeiro usa o computador ou o celular para acionar o equipamento remotamente, por GSM ou rádio. O software também envia alertas via SMS ou e-mail em casos de mau funcionamento da máquina. Além de economizar água, energia e mão de obra, isso melhora a produtividade. O uso de pivô costuma aumentar a produção em 150%. Com esses recursos adicionais, dizem os especialistas do Cesar, a produção pode crescer em até 400%. O sistema está em teste em Goiás há quase um ano, e deve ser comercializado em 2013.

Porto seguro do hi-tech
Projetos como o do pivô renderam reputação no mercado. Hoje, o Cesar trabalha com 58 clientes, como Banco do Brasil, Samsung e Siemens. O centro foi também um dos primeiros passos para a criação, em 2000, do Porto Digital, um polo de softwares no Recife que reúne 200 empresas, 6.500 profissionais, e fatura R$ 1 bilhão ao ano. Ao todo, 15 companhias do Porto surgiram de ex-funcionários do Cesar. Há lá dentro incentivo para que os empregados desenvolvam um projeto e tornem-se empreendedores. O Cesar dá suporte que vai da metodologia a recursos financeiros por até 6 meses.
A criatividade e o empreendedorismo são também estimulados de outras maneiras. “Em tese, a única coisa que você precisa para fazer inovação é uma estrutura básica de galpão, eletricidade, laptop e ar-condicionado”, afirma Silvio Meira. Ao visitar a sede do Cesar, vemos que não é só isso. Lá, os horários são flexíveis, há muitas pessoas que trabalham de casa e existe um clima amistoso. Há também o contato constante com ideias trazidas por alunos, já que os engenheiros do Cesar ensinam seu método de trabalho baseado em problemas reais no projeto Cesar.Edu. O projeto interno oferece desde cursos técnicos (para alunos de ensino médio), passando pelos de extensão com foco em entrega de projetos a um mestrado em Engenharia de Software. As aulas são baseadas nas demandas do mercado, e os professores levam problemas concretos à sala de aula.

A criatividade e o empreendedorismo são também estimulados de outras maneiras. “Em tese, a única coisa que você precisa para fazer inovação é uma estrutura básica de galpão, eletricidade, laptop e ar-condicionado”, afirma Silvio Meira. Ao visitar a sede do Cesar, vemos que não é só isso. Lá, os horários são flexíveis, há muitas pessoas que trabalham de casa e existe um clima amistoso. Há também o contato constante com ideias trazidas por alunos, já que os engenheiros do Cesar ensinam seu método de trabalho baseado em problemas reais no projeto Cesar.Edu. O projeto interno oferece desde cursos técnicos (para alunos de ensino médio), passando pelos de extensão com foco em entrega de projetos a um mestrado em Engenharia de Software. As aulas são baseadas nas demandas do mercado, e os professores levam problemas concretos à sala de aula.


Editora Globo
Ímã criativo: com horários flexíveis, clima amistoso e centro de estudos, o cientista Silvio Meira (acima) criou um polo tecnológico que passou a segurar talentos que antes saíam do Recife
O que é de Cesar
Veja algumas das tecnologias desenvolvidas no centro:

VANT
Um pequeno helicóptero não-tripulado foi criado para fazer imagens e inspecionar os quilômetros de instalações de energia elétrica (especialmente linhas de transmissão) da Chesf. A aeronave foi projetada para voar a uma distância máxima de 50 metros acima da linha de transmissão.

Monitor de Irrigação
Transmite as informações dos sistemas de irrigação localizados longe da sede da fazenda por GSM e rádio, envia alertas sobre a manutenção do equipamento e permite que ele seja acionado remotamente, evitando desperdícios.

Inteligência de Tráfego
Rede de sensores sem fio que possibilita a identificação de veículos no trânsito de grandes cidades. Isso permite, por exemplo, interferir no tráfego para priorizar a passagem de veículos especiais.

Detecção Facial
Sistema que reconhece rostos, gestos e movimentos para ser usado em
conjunto com aplicativos e jogos de celulares.


Disponível em: http://revistagalileu.globo.com/Revista/Common/1,,EMI325183-17579,00.html

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