Anteprojeto do direito autoral favorece Ecad
ANNA VIRGINIA BALLOUSSIER
DE SÃO PAULO
NÁDIA GUERLENDA
DE BRASÍLIA
Acusada com frequência de ser guardiã dos interesses da indústria fonográfica, a ministra Ana de Hollanda (Cultura) enviou à Casa Civil, depois de dez meses de análise, um anteprojeto da Lei dos Direitos Autorais quase igual ao do antecessor Juca Ferreira. Quase. DE SÃO PAULO
NÁDIA GUERLENDA
DE BRASÍLIA
Algumas das poucas novidades, justamente, reduzem a fiscalização sobre sociedades arrecadadoras. É aí que se enquadra o Ecad (Escritório Central de Arrecadação e Distribuição), formado por nove associações que representam autores e intérpretes.
A entidade é alvo atualmente de duas Comissões Parlamentares de Inquérito --uma no Senado e outra na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro-- que investigam acusações de fraudes.
Entre as mudanças propostas pela atual gestão está a cobrança dos direitos autorais proporcional ao uso das obras.
Hoje, sem critérios definidos em lei, acaba-se pagando pela execução do catálogo inteiro de uma associação musical. O repasse dos créditos aos autores é feito por amostragem. Funciona assim: técnicos do Ecad escutam o que se toca em algumas rádios, TVs e boates. Depois, estendem esse levantamento para o país.
"O problema é que isso favorece sempre os mesmos autores, prejudicando os demais. Além disso, incentiva o 'jabá' [execução mediante pagamento]", diz o advogado Allan de Souza, professor da UFRRJ (Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro).
No texto de Juca, já havia a previsão de uma cobrança proporcional. Na nova versão, frisa-se que esse tipo de coleta só precisa ocorrer se for "técnica e economicamente viável". E quem determina a viabilidade é o próprio Ecad.
Outro ponto que pode beneficiar o Ecad é o esvaziamento do controle de suas atividades. O Plano Nacional de Cultura, publicado no final de 2010, previa a criação de um órgão de regulação.
O novo anteprojeto elimina a possibilidade de o MinC cancelar o registro de entidades arrecadadoras --diz que só o Judiciário pode punir, mas isso já ocorre hoje.
Procurados, tanto o MinC quanto o Ecad não se manifestaram sobre o anteprojeto.
MINISTRA POLÊMICA
Em janeiro, Ana de Hollanda decidiu rever o anteprojeto deixado por Juca Ferreira.
Ao pedir de volta uma proposta debatida ao longo das gestões de Gilberto Gil e Juca Ferreira (2003-2010), Ana foi tachada de conservadora.
Havia temor de que ela recuasse em pontos que flexibilizavam o cerco à cultura digital. Promulgada em 1998, a lei atual criminaliza atos como passar músicas do CD para o iPod ou exibir trechos de um filme em sala de aula.
No novo texto, a ministra seguiu os antecessores no que tange à cópia, "para uso privado e não comercial", de obras obtidas legalmente.
Outro ponto polêmico trata da pirataria na internet. No texto de Juca, uma regra já fixava que quem se sentisse lesado poderia notificar o provedor hospedeiro do conteúdo para que o retirasse do ar, sem medida judicial.
Se não o removesse, passaria a ser considerado infrator, ao lado de quem tivesse colocado a obra on-line.
Arte/Folhapress | ||
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