Já virou praxe em todo mundo ver uma multidão se vestir como as atrizes
de TV e cinema. Não importa a originalidade dos cortes, rapidamente eles
são copiados. A tendência, que também se aplica a sapatos, bolsas e
acessórios, costuma irritar estilistas consagrados. Eles perdem noites
de sono em busca da estampa perfeita, mas o lucro de suas inovações, na
maioria das vezes, nunca são compatíveis com o tamanho do sucesso de
seus produtos. Neste ramo, se valer de patentes e viver de royalties é
coisa rara, mas empresários do ramo principalmente os de pequeno porte
devem estar atentos ao registro de suas marcas e produtos.
De
acordo com Susana Serrão, analista de desenho industrial do Instituto
Nacional da Propriedade Industrial (INPI), é difícil aparecer um
estilista que queira registrar um croqui. Para estimular o aumento no
número de registros de criação de moda, o INPI fechou uma parceria com o
Sebrae. A proposta é mostrar às pequenas confecções como elas podem
aderir à moda da proteção intelectual. Já na próxima edição do Fashion
Rio, representantes de grifes como Versace, Valentino e Zara falarão
sobre as vantagens de proteger suas marcas em palestras gratuitas
direcionadas aos empresários. Segundo Susana, no Brasil, os fabricantes
de sapatos são os únicos a registrar de forma recorrente suas criações.
"O
setor calçadista sempre busca a patente dos seus produtos. Empresas
como a Alpargatas e Grendene registram qualquer inovação. Sempre tem um
modelo novo de Havaianas sendo registrado. Essa freqüência só acontece
mesmo com sapatos", conta.
Quem deseja fazer valer a propriedade
intelectual da moda no campo industrial pode utilizar, além do registro
da marca, duas formas de proteção: patentes ou registro de desenho
industrial. No caso do desenho industrial, o inventor pode escolher
entre o INPI, com taxas mais caras, ou a Escola de Belas Artes.
"A
marca sempre é registrada. Já os adornos, sapatos, jóias, croquis,
padronagens e texturas ficam de lado, mas eles podem ser protegidos como
patente ou desenho industrial, vai depender do grau de inovação. Nos
produtos, só vale a pena registrar o que for realmente muito original,
pois o processo é caro. Para fazer um pedido de registro de desenho
industrial em preto e branco no INPI, que é o mais simples, uma pessoa
física gasta R$ 130 só com o depósito, sem contar outras taxas. No caso
da moda, quanto mais detalhes e cores, mais caro fica. Todas as
inovações são registradas de forma separada. Neste caso, como é desenho
industrial, o desenho só será protegido por 10 anos, podendo ser
prorrogado a 25 anos. Já na escola de Belas Artes, eles também podem ter
o direito do autor registrados. Os desenhos são protegidos como uma
obra artística, com um custo mais baixo, R$ 60, e com validade pela vida
inteira, mas podem ser questionados depois na Justiça", diz Susana.
Ainda
de acordo com ela, informações truncadas inibem estilistas brasileiros a
registrarem suas criações. "Eles acham que a proteção não vale quando
registram um croqui e depois outra pessoa muda apenas um botão ou o
tecido. Não é bem assim. Se o modelo for igual, terá de pagar
royalties".
Por pensar dessa forma, o estilista Carlos Tufvesson
nunca registrou nenhuma de suas criações. Tufvesson diz que já teve
vontade de apedrejar algumas vitrines ao ver cópias de seus modelos. Ele
afirma não concordar com a postura da estilista Gabrielle Coco Chanel,
que declarou não se importar com as cópias porque elas eram o maior
reconhecimento de seu sucesso.
"O grande problema da moda é a
cópia. Nenhuma grife consegue se proteger diante da quantidade de
cópias. Não adianta registrar no INPI porque se mudarem um botão, acabou
o registro. Quando morava na Europa, cansei de ver Versace lançar
estampas em desfiles e, antes de as estampas chegarem na loja dele, já
estavam na vitrine de outras lojas. Eles fotografam, digitalizam, fazem
de tudo. Fico três meses trabalhando direto, sem descansar nem sábado,
nem domingo. Copiar é fácil, mas não adianta. O jeito é relaxar. Isso
não afeta minha clientela, que quer um produto bem acabado", diz
Tufvesson.
Problema semelhante vive Alcyr Amorim, proprietário da
Gang Rio. Além de ver cópias de suas calças, a marca do jeans, que
acentua as formas de estrelas como Britney Spears, Jennifer Lopez e
Christina Aguilera, é disputada na Justiça. O problema surgiu por falta
de informação. "Hoje não temos o direito da marca no Sul do País.
Estamos brigando por causa de um erro bobo. Além deste problema, a gente
enfrenta as cópias, que são inúmeras. Não tenho nem como calcular a
perda financeira. A única coisa que fazemos para combater as cópias é
investir cada vez mais na qualidade", diz Amorim.
Na avaliação do advogado Alvaro Loureiro Oliveira, do escritório Dannemann Siemsen,
especializado em proteção da propriedade intelectual e combate à
pirataria, a melhor saída para os grandes estilistas é mesmo apostar em
um estilo único, algo que identifique a marca e que faça com que ela
seja desejada. Segundo ele, as ações para combater as cópias são
demoradas e não trazem compensação financeira. "Recomendo patentear em
caso de inovação tecnológica", diz Oliveira.
A empresária
Nucileia Porto, da confecção Lucitex, do pólo de moda íntima de Nova
Friburgo, na região serrana do estado do Rio de Janeiro, está produzindo
o segundo lote do primeiro produto patenteado em sua fábrica: a
calcinha Brazilian Secret. Feita com espuma e formato arredondado, a
peça, lançada no mês passado na edição Outono/Inverno do Fashion Rio,
garante deixar o glúteo com uma imagem de arrebitado.
"A gente
sabe que a cópia no Brasil é rápida e que o processo de patente é
demorado. Quando a patente é de um objeto é mais rápida; de vestuário é
mais complicada. Acho que só vale mesmo investir numa patente quando o
produto é super diferenciado, como é o caso da calcinha. As vendas estão
superando nossa expectativa inicial e já estamos entregando o segundo
lote de fabricação. O sutiã com alça de silicone foi uma invenção
brasileira que não foi patenteada. Considero uma pena porque hoje o
mundo inteiro vende sutiã com este tipo de alça", avalia Nucileia.
A
inventora da calcinha, Ana Cláudia Moraes, também comemora o sucesso do
produto. Sem ajuda de advogados, ela conta que teve apenas o apoio dos
funcionários do INPI na orientação da patente. "Entrei com o pedido de
patente em 2002 e guardei o projeto a sete chaves. Temia que uma grande
empresa do ramo roubasse minha idéia. Só procurei o fabricante quando já
estava com toda a documentação aprovada e a patente na mão. Não tinha
dinheiro para pagar um advogado e contei com a ajuda dos funcionários do
INPI. Foi demorado, mas valeu a pena. Já tenho outro projeto aguardando
a patente", comemora.
Disponível em: http://www.dannemann.com.br/site.cfm?app=article_archive&dsp=article&pos=1.4&lng=pt&grp=6&num=349
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